Assim como Maria, mãe de Jesus, as mulheres não concebem a vida somente quando dão à luz a um filho, mas sim nos pequenos gestos e grandes esforços do dia a dia
O março do Dia Internacional da Mulher é também a comemoração dos meus primeiros seis meses na missão ad gentes. Em setembro de 2016, fui enviada pela Arquidiocese de Passo Fundo para Moma, norte de Moçambique, em parceria com o Regional Sul 3 da CNBB.
Neste mês, em todo o mundo, somos provocados a refletir com responsabilidade e compromisso as lutas das mulheres. Caminhamos para fortalecer o protagonismo feminino e a igualdade no trabalho, na família, na sociedade e na Igreja.
Maria, rosto materno do Pai
Em Maria conhecemos uma mulher próxima dos pobres e de todo o povo. Ela era preocupada, atenta, perspicaz e tão observadora que em Caná percebeu que não podia ignorar o que estava acontecendo. A comunidade sentia pela falta de vinho na festa de casamento e Maria resolveu o problema.
Diante de tantas faltas de vinho, que hoje são alimentos, roupas, medicamentos e casas, as nossas mulheres vivem os mesmos sentimentos experienciados pela mãe de Jesus durante o casamento.
Os Evangelhos apontam que a maternidade de Maria não foi fácil. Ela permaneceu com Jesus até a morte, provando o quão definitivo tinha sido seu sim ao projeto de Deus. As lágrimas de Maria ao receber o corpo de Jesus são também as lágrimas das centenas de mulheres que lidam diariamente com a morte de seus filhos, maridos, vizinhos. Ou então das suas amigas, irmãs e filhas, que sofrem com a violência nascida simplesmente por serem mulheres.
Mulher moçambicana promotora de vida
Em Moçambique, a busca das mulheres por igualdade em suas famílias, profissões e comunidades é ainda mais intensa. As moçambicanas, especialmente as moradoras de áreas rurais e de periferias urbanas, ainda estão distantes das conquistas dos movimentos ocorridos ao redor do mundo nas últimas décadas. A dupla jornada de trabalho, o acesso precário a informação e a ausência de documentação são verdadeiras barreiras que as impedem de alcançar sua autonomia. Essa desigualdade econômica significa que elas têm menos dinheiro, quase nenhuma proteção contra a violência e o mínimo acesso a educação e a saúde. Este processo faz com que continuem sendo cada vez mais discriminadas e oprimidas por uma sociedade que insiste na desigualdade de gênero como forma de dominar.
Por outro lado, o trabalho diário das mulheres aqui se converte em vida para todos. O esforço necessário para dar à luz não é o mesmo que conhecemos, com nossos exames pré natais, dietas específicas para grávidas e todo o descanso necessário. Nas poucas condições que têm, nas incertezas da gravidez e do parto, se esforçam não só pelo filho que levam na barriga, mas também para garantir vida aos que já trocaram o ventre pela terra.
Na cultura de Moçambique, onde 80% da população vive das machambas (pequenas plantações familiares) as mulheres são responsáveis pelo trabalho com a terra. São elas que acordam antes mesmo do sol nascer e partem para semear, regar e colher a comida.
Em cima de sua cabeça, outras vidas vão de lá para cá. Armazenada em baldes e galões, a água chega às casas e sacia os sedentos. No caminho de ida e volta até o poço, o suor nascido do esforço vai alimentando a terra para, no destino, dar de beber aos que têm sede.
Ventre, braço, cabeça, corpo, coração de mulher que carrega a vida que brota do amor e da esperança de dias melhores.