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11.Set - Missão em Moçambique: um ano de amor, entrega e compaixão
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Victória Holzbach, missionária da Arquidiocese de Passo Fundo, completa, em setembro, um ano de trabalho missionário em Moçambique

 

Aos 25 anos, Victória Holzbach – jornalista e leiga da Arquidiocese de Passo Fundo – decidiu ir além da palavra e buscou, através da ação, viver o amor de Deus: enviada, em setembro de 2016, para Moma, no norte de Moçambique, a jovem – que é natural de Passo Fundo e já participou de grupos de jovens e atuou, também, no Setor Juventude e na Assessoria de Comunicação da Arquidiocese – completa um ano de missão com a certeza de que vale a pena dedicar compaixão e empatia àqueles que, ainda que diferentes, estão unidos pelo mesmo desejo de construção de um mundo melhor.

 

Sobre compaixão e empatia

Mantido pela Igreja Católica do Rio Grande do Sul há 24 anos, o projeto Igrejas Solidárias se propõe a ser um apoio à Arquidiocese de Nampula, em Moçambique. É de lá que Victória, há doze meses, vive a missão. “Quando cheguei, acreditava que a missão exigiria de mim um grande esforço físico. Hoje, sei que o que mais posso oferecer é a minha força mental”, inicia a jovem que acrescenta, ainda, que acreditava que faria aquilo que se identificasse ou que se sentisse capaz. Hoje, Victória percebe que as capacidades são desenvolvidas de acordo com a necessidade. “No último ano, a jornalista se tornou uma administradora razoável, capaz de discutir métodos pedagógicos, conhecer a mecânica de um carro e identificar as principais doenças e seus respectivos medicamentos naturais.”

 


“No último ano, a jornalista se tornou uma administradora razoável, capaz de discutir métodos pedagógicos, conhecer a mecânica de um carro e identificar as principais doenças e seus respectivos medicamentos naturais.”


 

Para ela, o essencial é estar disposto a enxergar a realidade. “Antes de chegar, escrevi: ‘Vou para servir a partir da realidade e não do meu desejo. Um novo mundo se constrói quando somos capazes de compreender com compaixão e empatia a cultura, a religião, os costumes, as opções e os contextos sociais, políticos e históricos de um povo’. Esse ainda é o grande aprendizado e as grandes chaves para seguir forte: compaixão e empatia”, enfatiza.

 

O sonho: Murima Wa Mwana

Victória chegou a Moçambique para ser responsável pelo acompanhamento e coordenação de uma Biblioteca Comunitária e uma Associação de Fotocopiadoras e, também, para ajudar nas atividades pastorais e formações nas duas paróquias atendidas pela equipe missionária. No entanto, todo o intuito de servir resultou na construção de um sonho que a motivou a ir além. “Sempre convivi com muitas crianças no portão da minha casa. No início, nossa comunicação se resumia em abanos ou toques e abraços tímidos”.

 

Logo que conseguiu a aproximação com os pequenos, Victória percebeu que mesmo estando na escola, as crianças não conheciam plenamente o alfabeto ou os números. “Dessa dificuldade nasceu um sonho. Pensava que poderíamos ter um projeto de alfabetização e reforço escolar dessas crianças. Não fazia sentido para mim chamá-las pelo nome, conhecer seus pais, mães e irmãos, e fechar o portão quando  não conseguíamos nos comunicar”. Consciente das dificuldades que este desejo poderia oferecer, a jovem conversou com os padres da equipe missionária e com dois voluntários norte-americanos que também atuam por lá. “Em três meses, reformamos um espaço, treinamos voluntários, compramos materiais e as aulas iniciaram.”. Assim, a partir do esforço de muitas mãos, nasceu o projeto de Murima Wa Mwana – que significa coração de criança em macua.

 

Um dos maiores desafios, para ela, foi encontrar uma forma de inserir no projeto as crianças de 3 a 6 anos que estavam na rua, mas ainda não iam para a escola. “Eu pensava: ‘Se os de 12 não conhecem o alfabeto, o que a gente faz com os de 3 anos?!’. Depois de quatro aulas, estava sentada na sala da minha casa insatisfeita pela necessidade de fechar uma contabilidade mensal e um coro de vozes inundou meu coração e meus olhos:  — ‘A, B, C, D’. Foi assim vez que tive certeza que não seria tão feliz em qualquer outro lugar do mundo.”

 

Dificuldades

Em meio a um contexto de serviço e, também, de uma realidade de vulnerabilidade social, a maior dificuldade encontrada por Victória é a língua. “Eu sou jornalista e nunca senti como sinto aqui a impossibilidade de me comunicar. O português é a língua oficial do país, mas aqui no norte, uma pequena parcela compreende português. As pessoas falam, educam seus filhos, celebram, negociam, sofrem e se alegram em macua”.

 

Outros desafios encontrados estão relacionados ao esforço para que as ações desenvolvidas pela equipe missionária tenham continuidade mesmo na sua ausência e, também, às doenças frequentes na região. “Não só as sentimos na pele, mas vivenciamos a cada momento as ausências causadas por elas. Sempre tem alguém que não veio, que não pode, que não está, porque está doente ou porque está cuidando de um familiar adoecido”.

 

Testemunho que convida

Apesar dos desafios e dificuldades, a própria vida de Victória é um convite para a missão. Através do Facebook e Instagram – tanto o pessoal quanto o utilizado para divulgação das ações da missão – ela apresenta a realidade que encontra no dia-a-dia. “Muitas pessoas me procuram com vontade de fazer missão na África. Em primeiro lugar, acho muito importante destacar que em cada lugar do mundo há alguém que precisa de ajuda (ou que quer te ajudar). Imaginar que a África é o único lugar possível é reduzir a missão em um projeto pessoal muito limitado. Minha pergunta sempre é: ‘E se fosse em outro lugar, você iria?’”.

 

Para ela, é assim – no desejo de ir ao encontro – que se constrói a Igreja. “Eu sempre acreditei em uma Igreja inserida na realidade. Que reza pelos que passam fome, mas que também age por eles. Que não se fecha em retiros e adorações, mas que observa a realidade e encontra na fé a força necessária para agir. Viver isso aqui e perceber a Igreja preocupada com a situação deste povo é experimentar a alegria de uma fé madura, consciente, enraizada na compaixão. A missão é testemunho do Evangelho, disposição de parar na estrada, tocar as feridas, levar pra casa e curar com amor”, coloca.

 

Sorriso, acolhida e alegria

Quando questionada sobre a doação da sua vida em prol de uma causa, Victória propõe uma ideia diferente. “Esse conceito de doar a vida é muito relativo. E se eu te falar que na verdade eu estou é ganhando a vida? Doar a vida é quando você se mata trabalhando pra ter dinheiro pra comer, morar, vestir e passear de vez em quando. Ganhar a vida, é quando você sente o sabor de cada dia, quando você descobre que as coisas boas são de graça e correm pro teu colo quando te enxergam”. Ela completa: “Pode parecer ironia, mas o maior ganho é o sorriso do menor, a acolhida do mais simples, ver a alegria que nasce quando a gota da chuva encontra a pele. Acredito de verdade que quando você descobre que a felicidade não vem embalada e etiquetada, você ganha a vida, e não doa”, conclui.

 


"Acredito de verdade que quando você descobre que a felicidade não vem embalada e etiquetada, você ganha a vida, e não doa."



 


 

Sammara Garbelotto

Assessoria de Comunicação da Arquidiocese de Passo Fundo

imprensa@arquidiocesedepassofundo.com.br

Fotos: Victória Holzbach

 


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