O caminho é uma necessidade da vida. A movimentação das pessoas de espaço físico para outro se dá por inúmeros motivos e necessidades, mas também sem necessidade alguma. Diante da necessidade sanitária, se repete insistentemente “fique em casa”. Percebe-se que o fluxo diminuiu e isto mostra que nem todas as movimentações são necessárias.
O caminho marca a condição humana e seu desenvolvimento. Começa com o nascimento que continua com desdobramentos das múltiplas dimensões humanas. Também no mundo religioso e moral conhece e usa frequentemente a categoria do caminho caracterizando a vida como uma “peregrinação”: manter-se numa boa estrada e percorrer a via reta. Aceita a categoria do caminho, ocorre saber onde nos conduz a estrada, e sobretudo, possuir a serena convicção de chegar a uma meta que seja a realização da vida.
A liturgia dominical oferece a narrativa dos Discípulos de Emaús (Lucas 24,13-35) que se desenvolve num caminhar. Fazem parte do cenário um discípulo chamado Cléofas e o outro anônimo. Um outro peregrino, inicialmente anônimo, se aproxima e começa a fazer parte. O destino da caminhada é Emaús, um lugar de difícil localização.
O Evangelista Lucas envolve o leitor para fazer parte do cenário como discípulo e mostrar que se está andando por um caminho aberto que envolve todas as realidades da vida. É uma narrativa que envolve um caminhar entre dois lugares de Jerusalém a Emaús; um caminho de ordem psicológico e espiritual e um caminho de retorno à comunidade.
A motivação da locomoção física dos dois discípulos está fundamentada numa profunda decepção. Tinham depositado todas as esperanças em Jesus, o Nazareno. Este também falhou pois foi morto como qualquer outro fazendo cair por terra todo projeto de libertação das opressões existentes em Israel. Se Jesus, “poderoso em obras e palavras”, como afirmam, os tinha atraído a Jerusalém não vive mais, também não há mais motivo para lá ficar. É melhor voltar para casa.
O caminho da vida não é plano e nem sempre ascendente. O caminhar é marcado por crises. Podem ser crises de fé oriundas de decepções por sentir-se abandonado por Deus, por razões econômicas, por saúde, por traição. A jornada da vida não é monótona. Algumas delas são tão grandes onde a primeira solução a ser tomada parece ser voltar para “casa”. Voltar ao passado como se isto fosse possível. No episódio de Emaús, os discípulos voltavam para casa, mas o assunto era Jesus, o Nazareno. Estavam mudando de lugar, mas a causa que os colocou na estrada estavam levando com eles.
Enquanto os Discípulos de Emaús, estavam voltados sobre si mesmos, fazendo a análise dos fatos sob o seu ponto de vista, tirando as conclusões a partir daquilo que tinham projetado, aproxima-se um peregrino estranho. Este se interessa pelo assunto e provoca um diálogo. Os provoca a contar os fatos e, somente depois, usa a palavra. Começa de modo provocativo: “Como sois sem inteligência e lentos”.
Aos poucos, o estranho peregrino foi se revelando, lhes abrindo os olhos e aquecendo o coração, porque conseguem entender o significado dos fatos. As motivações para a desesperança não eram fundadas, o caminho não estava no fim, apenas estava começando. Jesus, o Nazareno não os tinha abandona, estava com eles, caminhava com eles, continuava presente em “obras e palavras”. O caminho não era voltar a Emaús, mas retornar correndo a Jerusalém, de volta para a comunidade de onde saíram e dali para o mundo.
Como os discípulos de Emaús convidamos: “Fica conosco Senhor, pois já é tarde e a noite vem chegando!”