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27.Mai - Artigo 13 - LITURGIA E ECONOMIA DA SALVAÇÃO
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Artigo 13 -  LITURGIA E ECONOMIA DA SALVAÇÃO

 


Dando mais um passo no fortalecimento de nossa compreensão litúrgica, estamos percebendo a intrínseca relação entre Liturgia e história da salvação. Aquilo que celebramos não é desvinculado de nossa existência ou da nossa história. E quando olhamos para a nossa existência como Povo de Deus, não temos como deixar de lado o vínculo especial entre Sagrada Escritura e Liturgia. No contexto bíblico, a Liturgia era considerada o momento privilegiado do anúncio e da leitura pública da Escritura. Além do mais, o vínculo entre Sagrada Escritura e Liturgia, nos dias de hoje, é alicerçado por dois aspectos intimamente interligados: o plano histórico e o plano teológico.


No plano histórico a presença da Escritura na celebração sempre foi considerada como uma derivação e uma evolução da prática sinagogal. Centrada na leitura das Escrituras e no canto dos salmos, a sinagoga era, no contexto bíblico, lugar de oração. Em várias passagens do Evangelho, encontramos o próprio Jesus presente na sinagoga ensinando (Mt 13,53; Mc 6,2) e até realizando a leitura das Sagradas Escrituras neste lugar sagrado (Lc 4,16-21). O culto se centrava, sobretudo, na escuta; a prática da Palavra de Deus era o núcleo e a causa do chamado feito por todos os profetas.


Já no plano teológico, a Palavra de Deus passou a ser constituída como um componente essencial no ambiente litúrgico. Na verdade, se compreendeu a história da salvação (dentro da relação entre Escritura e Liturgia), através da afirmação: “o plano salvífico de Deus está para a Palavra de Deus assim como o Verbo encarnado está para a Liturgia”. Isto nos faz entender duas coisas: a primeira é que o acontecimento que se lê na Sagrada Escritura é o que se atua na Liturgia, e por este motivo, a Sagrada Escritura encontra na Liturgia a sua interpretação naturalmente concreta e sempre no plano da história da salvação, nunca uma interpretação puramente intelectual. A segunda, por sua vez, é que a Sagrada Escritura, também como Revelação da salvação, se completa na Liturgia. O lugar do anúncio da Palavra, na Liturgia, tem assumido uma importância que não é meramente exterior, mas que revaloriza todo o conjunto teológico-salvífico que ela possui por natureza.


Se prestarmos atenção na Liturgia da Palavra, vamos perceber que ela é essencialmente dialógica: Deus fala ao seu povo e o povo responde a Deus com cânticos e orações; a Palavra de Deus é dirigida à comunidade e a comunidade a responde; Deus instrui e a comunidade escuta e reza. Nesse sentido, a Liturgia da Palavra é considerada uma verdadeira celebração da Palavra de Deus, um verdadeiro ato de culto. Uma vez que nela encontramos o anúncio da mensagem de salvação, a Liturgia da Palavra constitui-se um “modelo de catequese”. Esta catequese atualiza no hoje da existência concreta da comunidade, suscitando uma resposta cultual que desemboca, em seguida, no compromisso da vida cristã.


Entretanto, sabemos que uma das maiores dificuldades dos cristãos em fazer das celebrações uma verdadeira experiência de fé está no distanciamento da sensibilidade em relação à linguagem ritual. Mais do que nunca, precisamos nos convencer que devemos nos educar para os ritos litúrgicos. Sendo que a Liturgia é formada por diversos ritos (fórmulas e gestos), a sua interpretação vai depender (e muito) da ideia que temos de religião e dos sinais em que ela se manifesta. Há, portanto, dois perigos: achar que se deva excluir toda forma de rito ou cair no ritualismo, supervalorizando mais a exterioridade do que o espírito. Vale recordar que o rito faz parte da necessidade natural que o ser humano tem em usar sinais para expressar seus sentimentos e atitudes interiores, tanto no que diz respeito às suas relações com outros seres humanos, quanto sua relação com Deus.


A ligação muito íntima que se tem descoberto entre a Sagrada Escritura e Liturgia permitiu vislumbrar uma nova luz acerca da compreensão ritual. Sabe-se que a característica mais particular do rito é a repetitividade. A repetição no rito cristão é memorial. Desta forma, por meio das ações simbólicas, o rito atualiza o efeito salvífico da ação que Deus opera na história. O vínculo que une a Sagrada Escritura (Palavra) à Liturgia, leva a descobrir que o rito consiste no ser sinal da realidade salvífica divina, que é Cristo, ou ainda, sinal da relação de Deus e a humanidade. Somente à luz de Cristo, que é sinal e salvação, nós podemos compreender e viver os sinais rituais do Novo Testamento, enquanto expressão e atuação da realidade permanente do Mistério Pascal de Cristo.


Embora o rito sempre seja um sinal externo, ele, igualmente, sempre revela uma atitude interna. A Liturgia cristã vai além daquilo que é exterior, presumindo uma atitude interior de adoração à Deus. Contudo, a Liturgia não pode ser confundida com uma atitude exclusivamente interior. A Liturgia é presença da ação divina sob forma ritual. A fé exige ser celebrada quando exige ser vivida. Assim, o rito religioso perde o sentido quando deixa de funcionar como uma linguagem na qual o fiel expressa sua comunhão com Deus.


Além de estar presente na relação entre Liturgia e Sagrada Escritura, a economia da salvação, ou seja, a ação de Deus na história humana também se faz sentir na relação entre Liturgia e exercícios de piedade. Entretanto, deve-se ter clara a distinção entre “ação litúrgica” e “exercícios de piedade”. As primeiras, são ações instituídas por Cristo ou pela Igreja (em nome de Cristo) que são realizadas por pessoas legitimamente designadas e conforme os livros litúrgicos. Os “exercícios de piedade”, por sua vez, são ações sagradas que podem ser realizadas tanto na igreja quanto fora dela, não tendo por obrigação a presença de um presbítero.


Sendo que a Liturgia é o culto público da Igreja, este é exercido pelo povo de Deus. Ou seja, qualquer forma de oração realizada “individual” ou “privativa” não é uma expressão ou manifestação do Corpo de Cristo, e por conta disso, não deve ser considerada como ação litúrgica. Em contrapartida, tudo o que a comunidade cristã, como Igreja, exerce com a intenção de celebrar Mistério de Cristo, deve ser considerado como Liturgia. “As ações litúrgicas não são pessoais, mas são celebrações da Igreja” (SC n. 26). Nestes termos, as ações sagradas da Liturgia pertencem a todo o Corpo da Igreja e são celebradas por um grupo reunido em torno do ministro que preside.


Por conta disso é que a assembleia litúrgica ganha um significativo destaque. A assembleia é a reunião dos fiéis, convocada pela Palavra de Deus anunciada por um dos seus ministros, para celebrar os Mistérios da salvação, rezar em comum e crescer na caridade. Toda assembleia litúrgica é uma porção da Igreja, reunida em um determinado lugar. Toda assembleia é um encontro de cristãos na fraternidade, sem exclusões ou distinções: toda pessoa batizada e em comunhão com a Igreja pode acessá-la e participar da celebração comum.


Além do mais, a assembleia é presidida por um ministro ordenado e a expressão plena da Igreja se realiza quando a assembleia está reunida, ao redor de um único altar, presidida pelo seu Bispo. Sendo que é impossível do Bispo presidir todo o seu rebanho confiado, é confiado aos presbíteros a tarefa de presidir e governar em comunhão com o seu Bispo. Nas celebrações, os presbíteros são auxiliados por diáconos e outros ministros que têm funções específicas. Nesse sentido, é de suma importância ressaltar que as celebrações da comunidade requerem uma colaboração harmoniosa de várias pessoas. Para que isso aconteça, “tanto clérigos como os leigos, se dediquem a fazer tudo e somente aquilo que for da competência de cada um” (SC n. 28).


Isso tudo fica visível no decorrer da celebração onde a assembleia que participa sente-se vinculada à ação de quem preside, de modo que, ao final da recitação da fórmula do “Por Cristo, com Cristo e em Cristo...” (dita somente pelo presidente da celebração), a assembleia aprova o que foi dito pelo presidente, respondendo “Amém”. Nesta resposta a assembleia manifesta sua participação na oração que seguiu em silêncio, mas com consciência e adesão. Todo o comportamento comunitário expressa a participação vigilante, pronta e diligente na ação sagrada.


 


 


 


 


Fonte: Pe. Joelmar de Souza

Equipe Arquidiocesana de Liturgia

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