No túmulo de São Francisco de Assis o Papa Francisco assinou sua mais recente Carta Encíclica, terceira de seu pontificado. O Papa marcou a memória deste grande santo da Igreja com um chamado universal à fraternidade e à amizade social.
Tendo como pano de fundo a pandemia da Covid-19, o Papa Francisco convida a “[…] uma forma de vida com o sabor do Evangelho” (FT 1), baseando-se nas Admoestações de São Francisco de Assis que, outrora, convidava a sermos “todos irmãos” (fratelli tutti). A inspiração é o santo de Assis, que carregou um ardente amor pelo Senhor, chegando a Ele pelo caminho dos “[…] pobres, abandonados, doentes, descartados, enfim, dos últimos” (FT 2). São Francisco mais se aproximava de Deus à medida que mais se aproximava dos irmãos (FT 3) e esse é o convite de nosso Papa, o Francisco que temos hoje à frente da Igreja.
A dimensão universal do amor fraterno é a marca que perpassa todas as páginas da Fratelli Tutti. O texto divide-se em oito capítulos, onde o Papa faz uma análise dos problemas que assolam o mundo atualmente, como o medo, a falta de atenção às minorias, a cultura do descarte, a globalização e a não atenção aos direitos humanos. Provoca, ainda, a olhar para o mundo com abertura de coração, carregando a marca da solidariedade, com a promoção do bem moral, da gratuidade e do além fronteiras no que se refere ao cuidado com os irmãos, negando, assim, todo tipo de individualismo. O texto ainda traz apontamentos sobre a importância da boa política, que deve carregar a marca do amor e não da ideologia, da ilusão do dinheiro ou do nacionalismo egoísta. O Papa Francisco ainda aponta o diálogo como o caminho para uma verdadeira amizade social, com a formação para uma cultura diferente, enfatizando o encontro com os irmãos, a amabilidade, o perdão, o conflito que faz crescer, combatendo toda forma de ataque à vida. O Papa ainda denuncia a injustiça da guerra e da pena de morte. Por fim, o destaque é para o papel fundamental das religiões na promoção da fraternidade em todo o mundo. A proposta é para fugir da divisão e, por meio da unidade e da experiência com o mesmo Pai, promover o diálogo e a colaboração comum, atingindo todos os povos e nações.
O texto do Papa Francisco baseia-se noutro assinado junto com o Grão Imame de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyeb, em Abu Dhabi no ano de 2019, tratando da fraternidade em prol da paz mundial e da convivência comum. O objetivo é que se dê mais atenção à boa religiosidade, aquela praticada com humildade e que tem como objetivo a paz. A intenção é que se dê “[…] lugar para a reflexão que procede da formação religiosa que reúne séculos de experiência e sabedoria” (FT 275). Fraternidade e amizade social só serão possíveis se baseadas numa experiência real a partir “[…] de um renovado encontro com os setores mais pobres e vulneráveis” (FT 233), pois “as grandes transformações não são construídas na mesa ou no escritório” (FT 231).
É evidente que o objetivo deste texto é apenas fazer uma apresentação geral à Fratelli Tutti. Não seria possível desdobrar, em tão poucas linhas, toda a riqueza que nos presenteou o Papa Francisco no texto desta encíclica. Seu grande sonho com esta publicação é o de que, “[…] perante as várias formas atuais de eliminar ou ignorar os outros, sejamos capazes de reagir com um novo sonho de fraternidade e amizade social que não se limite a palavras” (FT 6). O chamado é à ação, em vista da paz e do bem comum, embora seja lento e difícil em meio a tantas diferenças. Importa, portanto, “[…] gerar processos de encontro, processos que possam construir um povo capaz de colecionar as diferenças” (FT 217).
Especialmente por sua humildade, São Francisco de Assis recebeu o título de “seráfico”, com referência à maior das hierarquias angélicas. Que cada um seja também portador desta humildade, a tal ponto de “dar-se conta de quanto vale um ser humano, de quanto vale uma pessoa, sempre e em qualquer circunstância” (FT 106). A partir disso, com Cristo como referência, poderemos ser realmente fratelli tutti, alcançando o desejo de São Paulo: “que vosso amor seja sem hipocrisia, detestando o mal e apegados ao bem; com amor fraterno, tendo carinho uns para com os outros, cada um considerando os outros como mais digno de estima” (Rm 12,9-10).
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Referências
FRANCISCO, Papa. Fratelli Tutti: sobre a fraternidade e a amizade social. São Paulo: Paulus, 2020.
BÍBLIA. Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002.
Pároco da paróquia N. S. da Conceição (Caseiros/RS) e reitor do Seminário Maior N. S. da Oliveira, Diocese de Vacaria/RS. Professor da disciplina de Metodologia e Prática Pastoral na Itepa Faculdades.
Licenciado em Matemática e bacharel em Filosofia (Universidade de Passo Fundo – UPF); bacharelando em Teologia (Itepa faculdades). Seminarista do segundo ano da etapa da Configuração, Diocese de Vacaria/RS.
A primeira foi Lumen Fidei (2013), sobre a fé, e a segunda Laudato Si’ (2015), sobre o cuidado com a Casa Comum.
As referências à Carta Encíclica Fratelli Tutti serão abreviadas com a sigla FT e marcadas com o parágrafo correspondente à citação.
Disponível em: http://www.vatican.va/content/francesco/pt/travels/2019/outside/documents/papa-francesco_20190204_documento-fratellanza-umana.html. Acesso em: 25 jan. 2020.
Este é o primeiro de uma série de dez artigos que serão publicados ao longo deste ano, por promoção da Itepa Faculdades, sobre todos os capítulos da Carta Encíclica Fratelli Tutti.