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08.Out - Pandemia de Amor?
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Pandemia de Amor?


Propor diálogo e compromisso conjunto, com vistas ao bem viver, ultrapassa a compreensão de encontrar-se por diplomacia, antes sim, evoca fraternidade e amizade a partir de uma convicção existencial e transcendental que cativa à alteridade social. Não se trata de guerrear dialeticamente medindo forças, proselitismos, doutrinas e ou ideologias, mas comunicar o verbo pleno, o ágape que não conhece alfândegas, pois, transpõe limiares geográficos, nacionalidades, religião, cor, orientação afetiva, etc, porque é princípio último à vida: Amar!


Fratelli Tutti, não tem a pretensão de “resumir a doutrina sobre o amor fraterno, mas detêm-se na sua dimensão universal, na sua abertura a todos” (FrT, n. 6), sugere Francisco. O Sumo Pontífice prossegue: “entrego esta encíclica social como humilde contribuição para a reflexão, a fim de que, perante as várias formas atuais de eliminar ou ignorar os outros, sejamos capazes de reagir com um novo sonho de fraternidade e amizade social que não se limite a palavras,” mas que transforme-se em práxis libertadora com vistas a outro mundo possível, de comunhão universal e dialógica relação entre pessoas de boa vontade à Civilização do Amor (FrT, n. 183).


Qual é a inspiração? Francisco de Assis, jovem revolucionário de outrora, reconhecido como a maior personalidade do segundo milênio cristão, há 800 anos, surpreende e torna-se atual à realidade contemporânea. Que se espera? “Desejo ardentemente que, neste tempo que nos cabe viver, reconhecendo a dignidade de cada pessoa humana, possamos fazer renascer, entre todos, um anseio mundial de fraternidade” (FrT, n. 8) expõe Francisco, Papa. Arriscaria dizer que o Bispo de Roma, terno e profético, neste 2020, exorta toda humanidade à “pandemia” (entre aspas, claro) do amor fraterno.


Qual o método? Nesta radical aventura libertadora e profícua de tornar a vida humana bela e partícipe da utopia fraternal e amistosa, Francisco recorre a poesia dialética do sonhar juntos, como “caminhantes da mesma carne humana, como filhos desta mesma terra que nos alberga a todos, cada qual com a riqueza da sua fé ou das suas convicções, cada qual com a própria voz, mas todos irmãos” (FrT, n. 8), crentes e agnósticos, respeitados(as) em sua “dignidade inalienável” e “inviolável em todo e qualquer período da história” (FrT, n. 213). Mais! “O necessário é haver distintos canais de expressão e participação social. A educação está ao serviço deste caminho, para que cada ser humano possa ser artífice do seu destino” (FrT, n. 187), em solidariedade universal.


À fraternidade e à amizade social ter-se-á que, primeiramente, dialogar francamente sobre as sombras do mundo contemporâneo fechado, com sérios “sinais de regressão”, onde “reacendem-se conflitos anacrônicos que se consideravam superados, ressurgem nacionalismos fechados, exacerbados, ressentidos e agressivos” (FrT, n. 11); uma pretensa intensão ao desânimo social, com disfarce à defesa de valores, sob a propagação de uma pseudo espiritualidade que dissemina desconfiança, desagrega e favorece à perca de sentido histórico. Francisco convida à recuperar o “cultivo da amabilidade” (FrT, n. 222-224).


Questiona Francisco: “Que significado têm hoje palavras como democracia, liberdade, justiça, unidade? Foram manipuladas e desfiguradas para utilizá-las como instrumento de domínio, como títulos vazios de conteúdo que podem servir para justificar qualquer ação” (FrT, n. 14). Que fazer? “Cuidar do mundo que nos rodeia e sustenta significa cuidar de nós mesmos. Mas precisamos de nos constituirmos como um ‘nós’ que habita a casa comum” (FrT, n. 17). Como reagir? Ver, compadecer-se e agir com misericórdia, queridos(as) jovens. A iluminação bíblica à ação sócio eclesial, político econômica e cultural é samaritana (Lc 10, 25-37). A pandemia do amor fraterno acontece pelo princípio de que, como irmãos – Fratelli Tutti – sejamos “misericordiosos como o Pai é misericordioso” (Lc 6, 36).   


Todos irmãos, como bons samaritanos(as), desprendidos(as) das misérias da indiferença e abertos(as) à alteridade capaz de “fazer ressurgir a nossa vocação de cidadãos do próprio país e do mundo inteiro, construtores dum novo vínculo social” (FrT, n. 66). Um verdadeiro kairós do encontrar-se à amar gratuitamente, compreende? É opção fundamental à construção, sabe? “Revela-nos uma característica essencial do ser humano, frequentemente esquecida: fomos criados para a plenitude, que só se alcança no amor. Viver indiferentes à dor não é uma opção possível; não podemos deixar ninguém caído ‘nas margens da vida’. Isto deve indignar-nos de tal maneira que nos faça descer da nossa serenidade alterando-nos com o sofrimento humano. Isto é dignidade” (FrT, n. 68).


A beleza do amor é recomeçar, ressurgir à vida. Amadas(os) jovens, Francisco de Assis e Francisco de Roma, exortam-nos à sermos instrumentos do amor fraterno, neste espaço planetário de corresponsabilidade e protagonismo capaz de gestar processos e transformações pela arte dialética do encontro fecundo. “Caminhemos na Esperança!” (FrT, n. 55). “Sejamos parte ativa na reabilitação e apoio das sociedades feridas. Hoje temos à nossa frente a grande ocasião de expressar o nosso ser irmãos, de ser outros bons samaritanos que tomam sobre si a dor dos fracassos, em vez de fomentar ódios e ressentimentos [...]. Alimentemos o que é bom, e coloquemo-nos ao serviço do bem” (FrT, n. 77).


Fratelli Tutti à pensar, gerar e edificar um mundo aberto que cria vínculos e amplia a existência humana a partir do coração, na gratuidade do ser para o outro(a), intercâmbio fecundo; “uma cultura sociopolítica que inclua o acolhimento gratuito” (FrT, n. 141), resguardando o tesouro que há em cada pessoa, como um poliedro (FrT, n. 145) de respeito ao valor, a identidade individual, na comensalidade universal. “A consciência do limite ou da exiguidade, longe de ser uma ameaça, torna-se a chave segundo a qual sonhar e elaborar um projeto comum” (FrT, n. 150). Mais! “Trata-se de avançar para uma ordem social e política, cuja alma seja a caridade social” (FrT, n. 180) à luz sempre de “um amor preferencial pelos últimos” (FrT, n. 187); que integra, reúne, emancipa, promove diálogo à digna vida em um caminho processual e artesanal de paz social, via perdão e reconciliação responsável, transparente, sincera e paciente (FrT, n. 244), mas sem perder a memória histórica. “Sem memória, nunca se avança; não se evolui sem uma memória íntegra e luminosa” (FrT, n. 248-249).


Amadas(os) jovens, parafraseando Vinicius de Morais, Papa Francisco nos convida à fraternidade e à amizade social ao rememorar que “a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro na vida” (FrT, n. 215). Retomando Carlos de Foucauld (FrT, n. 286), ao refletir a fraternidade universal das nações e religiões, Francisco recupera seu testemunho de entrega total a Deus e “identificação com os últimos, os mais abandonados no interior do deserto africano” (FrT, n. 287), desejoso de ser irmão universal. Francisco encerra o Tempo da Criação e o Jubileu da Terra ao assinar, em Assis, Fratelli Tutti, pronunciando uma oração cristã ecumênica: “Vinde, Espírito Santo! Mostrai-nos a vossa beleza refletida em todos os povos da terra, para descobrirmos que todos são importantes, que todos são necessários, que são rostos diferentes da mesma humanidade amada por Deus. Amém”. Concluo este rabisco como aperitivo à leitura, reflexão, diálogo e alteridade integral convosco amadas(os), pois, Fratelli Tutti!



Padre Leandro de Mello

Padre Leandro de Mello

Pároco na paróquia Nossa Senhora dos Navegantes – Ronda Alta, e Assessor da Pastoral da Juventude

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