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25.Mar - Pais e filhos, em diálogo?
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Pais e filhos, em diálogo?


Ao questionar, no grupo de jovens, sobre possíveis temas para dissertar, eis que a primeira sugestão fora: “Escreve sobre diálogo entre pais e filhos, padre Leo!” Por indagar o porquê, da sugestão, escuta-se: “Meu pai, ou melhor, meus pais, não admitem que eu vá à Igreja, ao grupo de jovens, sabe? ‘Tipo!’ Se quero sair, ir à festa, ou qualquer outra coisa, tudo bem, até me dão dinheiro. Mas no grupo de jovens, não! Acho que eles tem medo, porque eu penso diferente, entende?” (H.D., 15 anos). Por que temer o protagonismo da juventude? Por que há inquietude quando o assunto é participar do grupo de jovens?


O texto base da Campanha da Fraternidade indica a família como “lugar privilegiado para crescer em sabedoria, idade e graça. Por isso, se diz que a família é escola de virtudes. Na virtude da sabedoria entra toda a perspectiva do processo educativo no convívio das gerações, em que pais, filhos, avós e outros familiares vinculados se tornam referências de valores e os novos aprendem com os mais experientes e vice-versa” (CNBB. Manual, 2022, n.179, p. 75). Neste quesito, considerando a ponderação do jovem acima, abre-se, no mínimo, uma interrogação quanto a realidade presente da(s) família(s) e suas virtudes educativas, não?


É perigoso, às vezes, dissertar acerca da evangelização da juventude, com disposição para escutar os(as) jovens e construir, em conjunto, um itinerário pedagógico de formação integral, com abertura à novidade do Evangelho e consciência crítico profética da história e seus processos, quando misturam-se concepções e contextos familiares, socioculturais, político econômicos e eclesiais diversos. Hilário Dick (in memoriam) dissera convicto: “na Pastoral da Juventude, queremos o jovem como substantivo” (Mínimo do mínimo para anunciar uma boa-nova à juventude, 2013), isto é, no construto humano de evangelização trabalha-se com os(as) jovens a totalidade de seus processos para que haja formação integral de sua autonomia, a fim de gestar capacidade crítica, espiritual e profética na sociedade, à luz do Evangelho.


A perspectiva pastoral, ao dialogar o protagonismo da juventude e sua presença participativa com inserção social é dinamizar, organicamente, uma “Igreja Jovem” capaz de escutar-se, discernir, avaliar, agir e celebrar sua experiência de fé e vida no construto da história e seus múltiplos aspectos. Neste caminhar, nutre-se uma espiritualidade repleta de realidade, preocupada em propiciar aos jovens uma consciência crítica e libertadora, capaz de encarar de forma dialógica o “conflito” de gerações, gestando luzes a projetos, objetivos e práticas de justiça e digna vivência em prol do bem comum, observando as subjetividades.


Entende-se, consequentemente, a canção reverberada pela juventude, em grupo, organizada: “nossos sonhos são pandorgas, nos levando para o mundo transformar [...]. O grupo de jovens é o lugar, de felicidade, resistência e de paz. De fugir do individualismo! Nestes pagos vida nova vai brotar. Se não for amor o que será, que conduz a dança e o nosso caminhar? Tem que levantar esta bandeira, Jesus Cristo é a razão para lutar” (Sonhos e Pandorgas). A Pastoral da Juventude, a saber, é uma ação organizada da Igreja Católica que compreende a juventude como protagonista, isto é, não sob ordens ou comandos, mas acompanhada, assessorada, de maneira orgânica e articulada, comunitariamente, no caminho dialético da vida e da experiência de seguimento a Jesus Cristo à missão de evangelizar outros jovens. Enquanto pastoral, faz opção pela juventude, pelos pobres, pelas minorias, pela civilização do Amor e da não violência, acreditando na dimensão educativa e libertadora da organização que empodera e gera autonomia com inserção socioeclesial transformadora.


Por estas e outras razões, o grupo de jovens é uma opção pedagógica fundamental à Pastoral da Juventude e, com certeza, contribui na elaboração de muitas interrogações, às vezes conflitivas. É salutar, ademais, compreender que a formação integral da pessoa, para a Pastoral da Juventude, perpassa a experiência do comunitário; e viver em comunidade causa desconfortos, pois, a alteridade das relações constitui-se a partir da múltipla adversidade de experiências humano históricas dos sujeitos imbricados no processo.


Daí ser sábia, fundamental e educativa a arte pedagógica do diálogo intergeracional; essencial portanto, em âmbito familiar, pois, “o diálogo é uma modalidade privilegiada e indispensável para viver, exprimir e maturar o amor na vida matrimonial e familiar” (AL, n. 136); outrossim, “o amor vivido nas famílias é uma força permanente para a vida da Igreja” (AL, n. 88) que é “família de famílias, constantemente enriquecida pela vida de todas as igrejas domésticas” (AL, n. 87). Torna-se compreensível, por conseguinte e enfim, entoar a canção: “Deus criou o infinito pra vida ser sempre mais. É Jesus esse pão de igualdade, viemos pra comungar. Com a luta sofrida do povo que quer ter voz, ter vez, lugar. Comungar é tornar-se um perigo, viemos pra incomodar. Com a fé e a união nossos passos um dia vão chegar” (Se calarem a voz dos profetas). A experiência comunitária socioeclesial da vida em grupo, às jovens e aos jovens, fulgura utopias concretas ao bem viver, à fraterna comunhão e inquietante profecia, com a dinâmica existência do ser sujeito cidadão que tem fé e quer viver como protagonista!  



Padre Leandro de Mello

Padre Leandro de Mello

Pároco na paróquia Nossa Senhora dos Navegantes – Ronda Alta, e Assessor da Pastoral da Juventude

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