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28.Mai - Libras e Juventude!
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Libras e Juventude!


Escutei, outro dia, uma pessoa adjetivar outra pessoa como ignorante. Estranho à realidade contemporânea, ou não? Despertou-me atenção, porém, não o adjetivo, mas sim a posterior interrogação: “Ignorante, por quê?” Há que, por deveras, propor-se reflexões sobre tal interlocução. Afinal, somos todos(as) ignorantes de algo, verdade ou não? Ao tomar em mãos o dicionário poder-se-á encontrar, em tempo, que a expressão “ignorante” traz por adjetivo a “característica de quem não possui instrução; que desconhece determinado assunto; que não está ciente de algo”.


Diz-se, ademais, ser qualidade da pessoa não portadora de malícia; portanto, inocente, dotada de certa pureza em seu ser. Sinceramente, em certas ocasiões, de forma branda, ser caracterizado(a) de ignorante é quase sinônimo de elogio, mas, não apenas. No entanto, o antônimo de ignorante será o sujeito gentil, instruído, etc. Cabe perguntar: Quem é sujeito, portanto? Sócrates (469 a.C. - 399 a.C.), filósofo grego, quando interpelado sobre quem seria “o homem mais sábio da Grécia (?)" respondera: “Só sei que nada sei!” Sábia ou ignorante, resposta? Compreensível, talvez!


A sagrada escritura, a saber, reverbera Jesus, o Cristo, explicando à comunidade de discípulos(as): “Ouvi a parábola do semeador: Todo aquele que ouve a palavra do Reino e não a compreende, vem o Maligno e rouba o que foi semeado em seu coração [...]. A semente que caiu em boa terra é aquele que ouve a palavra e a compreende. Esse produz fruto. Um dá cem, outro sessenta e outro trinta” (Mt 13,18-23). Para compreender a Boa Notícia do Reino de Deus, em 2021, há sugestões criativas? Perceber-se ignorante de alguns por quês, por vezes, é salutar. Discernir-se incapaz de tudo saber e compreender, mas dispor-se à dialogar e construir-se na alteridade, enquanto aprendiz, constitui-nos sujeitos cidadãos(ãs).


A expressão “compreender” indica ação, pois, é verbo. Significa, “conter em si, em sua natureza; estar ou ficar incluído” e ainda, “estender a sua ação a”. Interessante? Claro! E, para abranger mais, é sinônimo de integrar-se, albergar, por exemplo. Particularmente, aufiro apreço pelo vocábulo albergar, pois, indica a ação de dar ou receber hospedagem, refúgio, guarida, talvez, alojar.


Neste eminente contexto de clausura social e essencial distanciamento, escutar a Boa Notícia proposta por Jesus Cristo, possibilita ao coração humano albergar-se à esperança. Todavia, inquieta compreender, por suposto, aos sujeitos cidadãos, desprovidos de habilidade auditiva, as pessoas surdas. Seriam “ignorantes”, talvez, pela impossibilidade de escutar a Boa Notícia? Não! Ao contrário, são sujeitos portadores(as) de imensurável aptidão para alojar em seu viver a semente do Evangelho, salvaguardados pela versátil e nobre Língua Brasileira de Sinais (Libras). Ignorância, antes, será pouco ou nada conhecer sobre tão importante veículo de comunicação e linguística.


Libras, conheces? É um conjunto de formas gestuais utilizado por deficientes auditivos para a comunicação” entre pessoas surdas ou ouvintes que, no Brasil, foi estabelecida através da lei nº 10.436/2002 como a língua oficial das pessoas surdas. Em parágrafo único, diz: “Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS a forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil.” A lei, inclusive, define ser obrigação público governamental garantir formas de incentivar o uso e a divulgação da Língua Brasileira de Sinais nas instituições públicas e, também, respeitar e motivar pessoas intérpretes, já reconhecidas e asiladas pela lei nº 12.319/2010.


Loreni Lucas, pedagoga e interprete, partícipe da Pastoral do Surdo na Arquidiocese de Passo Fundo recorda que “a Língua Brasileira de Sinais se constitui numa língua reconhecida oficialmente como segunda língua do Brasil, entretanto o idioma ainda é pouco conhecido e valorizado pelos brasileiros. Ela não é uma linguagem de sinais como se falava antigamente. Ela é a língua que os surdos brasileiros utilizam para se comunicar”.


Enquanto pastoral social da Igreja Católica, a Pastoral do Surdo acolhe pessoas diversas em seu processo de evangelização. Muitos participantes são jovens. Germina, a partir desta realidade, a possibilidade de articular e protagonizar grupos de jovens, organizados, à luz da Língua Brasileira de Sinais, para compreender e vivenciar o Evangelho através da metodologia da pastoral juvenil. Dentre as pastorais juvenis ligadas à Igreja Católica, para saber, com metodologia sócio transformadora, está a Pastoral da Juventude. Há, portanto, caminhos possíveis de diálogo, interação e inserção como pastoral de conjunto, entre agentes da Pastoral do Surdo e da Pastoral da Juventude.    


Poder-se-ia citar, ainda, o Braille como mecanismo propício à leitura e compreensão da Palavra de Deus, enquanto código alfabético. “É um sistema de escrita tátil utilizado por pessoas cegas ou com baixa visão,” tradicionalmente escrito em papel relevo. Há inclusive, bíblia em braille, sabia? Compartilho ardente desejo em aprender tamanha sensibilidade tátil. Concluo, por fim, com particular e adjetiva ignorância, tanto para libras, quanto para braille; porém agradecido, pois, dentre os diversos atributos comunitários de participação e práxis pastoral, é-nos disponibilizada a graça de produzir, quiçá trinta, se não for possível sessenta e cem, neste construto dialógico entre libras e juventude, rumo à Civilização do Amor!  



Padre Leandro de Mello

Padre Leandro de Mello

Pároco na paróquia Nossa Senhora dos Navegantes – Ronda Alta, e Assessor da Pastoral da Juventude

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