“Dar as mãos e construir, passo a passo caminhar” reverbera a canção, intitulada: “Senhor, que queres de mim?” (Jorge Trevisol e Osmar Coppi); e diz mais: “Como nasce o dia e vai cair no entardecer. Como saem as aves pra seu ninho construir. Como a natureza tem seu tempo, cor e flor. Força da semente, muito amor. É assim que o povo vai fazendo acontecer. Este mundo novo que as crianças hão de ver. Sem temer o mal, a esperança irá surgir. Nova humanidade a se fazer!”
“Gostaria de tomar-vos pela mão, mais uma vez, para continuarmos juntos na peregrinação”, diz o Papa Francisco, aos jovens e às jovens, ao escrever a mensagem por ocasião da XXXVI Jornada Mundial da Juventude que celebra o tema: “Levanta-te! Eu te constituo testemunha do que viste!” (At 26, 16). Rumo à Jornada Mundial da Juventude de Lisboa, em 2023, motiva-se a Jornada Mundial da Juventude Diocesana prevista para 21 de novembro, na Solenidade de Cristo Rei, neste 2021, em cada arquidiocese/diocese. É salutar recordar que a organização mundial juvenil é fruto da articulação e organização primeira, isto é, em cada comunidade eclesial, em cada grupo de jovens, cada comunidade paroquial, diocese e arquidiocese, em cada regional, pais e/ou continente.
A força juvenil é fermento de transformação sócio eclesial, político econômico e cultural há décadas na história e na experiência de fé do povo de Deus. A sagrada escritura, a saber, recorda importantes personagens bíblicas como referenciais às ações sócio transformadoras e libertadoras. Abraão, acolheu e discerniu o chamado vocacional rumo à nova terra (Gn 12,1-3). O jovem Moisés escuta, ao coração, “vai, eu te envio” (Ex 3,10) e parte, articulando pessoas, rumo à terra prometida. A jovem Rute une-se a Noemi à caminhar na esperança de uma experiência nova de vida: “aonde você for, eu também irei” (Rt 1,16). Elias percebeu-se tocado pela mão divina ao escutar: “Levante-se e coma, porque o caminho que você tem a percorrer é longo demais” (1Rs 19,7). Ester, jovem rainha, quando interpelada a expressar seu desejo, à sua práxis, solicitou dignidade e justiça social: “o meu desejo é a vida do meu povo” (Est 7,3). Quais mãos conduzem, hoje, à vida, à utopias concretas?
“Quando cai um jovem, de certo modo cai a humanidade. Mas também é verdade que, quando um jovem se levanta, é como se o mundo inteiro se levantasse. Queridos jovens, que grande potencialidade tendes nas vossas mãos! Que força trazeis nos vossos corações!” – expressa Francisco, Sumo Pontífice. Quando, em 1205, diante da cruz, na Igreja de São Damião, Francisco de Assis, experimenta-se à escuta do coração juvenil a pulsar, teria ouvido, por três vezes: “Francisco, vai e reconstrói a minha igreja-casa que, como vês, está ruindo”. Àquele reconstrói a Igreja-Casa, como um “Efatá” (Mc 7,34), isto é, abra-se ou abre-te, reconfigura, à vivência juvenil de Francisco, uma perspectiva totalmente nova de ação e articulação na realidade a qual experimentava.
À memória é ímpar mencionar que Francisco de Assis viveu no período contextual às cruzadas. Destas, resta, historicamente, lamentar o equívoco metodológico eclesial da Instituição. Articulando organização, unido a outras pessoas, Francisco opta por outro caminhar: ser instrumento de paz e bem! No presente, por um instante, pensemos em Carlo Acutis que, através da internet, alcançou o coração de muitas pessoas, sendo sinal de esperança e coragem. Carlo, talvez pelo mouse, tocou as mãos de milhares de outros(as) jovens rumo à novas perspectivas de evangelização.
A Pastoral da Juventude (PJ), por exemplo, neste 2021, articula-se à celebrar seu aniversário jubilar de 40 anos como grupo pastoral organizado e articulado no Rio Grande do Sul, ao passo que, no Brasil, caminha para o jubileu de ouro, 50 anos, em 2023. A PJ a partir de 1980, é reconhecida no RS como novo embrião, quando “nos dias 31 de maio e 01 de junho, em Porto Alegre, alguns jovens, representantes das dioceses de Rio Grande, Porto Alegre, Frederico Westphalen, Santa Cruz do Sul, Santa Maria, Santo Ângelo e Passo Fundo se reuniram para pensar uma organização conjunta”. A criação da Comissão Regional de Jovens (CRJ), em 1981, oficializou a Pastoral da Juventude do RS (PJRS), ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). É mister dizer que toda a ação evangelizadora envolvendo a práxis pastoral da Igreja Católica, nas décadas que antecedem este período, são consideradas importantes, principalmente a Ação Católica Especializada (ACE). Há, é verdade, outras organizações juvenis, deveras importantes à vida eclesial e social. À sinodalidade, hoje, é fundamental “dar as mãos e (re)construir!”
Urge, neste tempo contemporâneo, entrelaçar dedos, mãos, braços à reconstrução da utopia do “esperançar” como diz Paulo Freire, pois, “se uma pessoa experimentou verdadeiramente o amor de Deus que o salva, não precisa de muito tempo de preparação para sair a anunciá-lo, não pode esperar que lhe deem muitas lições ou longas instruções. Cada cristão é missionário na medida em que se encontrou com o amor de Deus em Cristo Jesus” (Evangelii gaudium, n. 120). “São tantos projetos impedindo o acontecer deste novo Reino de justiça e de paz. Mas é bem maior a nossa força em mutirão”, diz a canção.
Permito-me parafrasear Francisco, por fim, para dizer-vos: “gostaria de tomar-vos pela mão” para continuarmos, juntos e juntas, articulando projetos e sonhos possíveis neste Kairós (tempo/momento oportuno) de reconstruir esperanças, vencendo as adversidades provenientes, não apenas consequentes da pandemia (Covid-19), mas de outras sindemias a assolar-nos. “Por isso, hoje, Deus diz a cada um de vós mais uma vez: ‘Levanta-te!’ Espero de todo o coração que esta mensagem ajude a preparar-nos para tempos novos, para uma página nova na história da humanidade. Mas não há possibilidades de recomeçar sem vós, queridos jovens. Para levantar-se, o mundo precisa da vossa força, do vosso entusiasmo, da vossa paixão [...]. Nenhum jovem está fora do alcance da graça e da misericórdia de Deus. De ninguém se pode dizer: Está demasiado longe... É demasiado tarde... Quantos jovens sentem a paixão de se opor e ir contra corrente, mas trazem escondida no coração a necessidade de se comprometer, de amar com todas as suas forças, de se identificar com uma missão [...]! Quanta força e paixão vivem também nos vossos corações, queridos jovens!” (Papa Francisco).