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09.Ago - Desejo ardente!
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Desejo ardente!


Desejo ardente, sentiste? A vida humana é movida por inúmeras motivações e, certamente, dentre elas encontra-se o desejo, às vezes ardente, não é? Há 20 anos era lançado o álbum “amor pra recomeçar” no qual se cantava: “desejo que você tenha a quem amar e quando estiver bem cansado ainda exista amor pra recomeçar. Pra recomeçar. Eu te desejo muitos amigos, mas que em um você possa confiar” (Frejat – Amor pra recomeçar). O corpo, a mente, o coração, constantemente conclamam à buscar algo vivaz e repleto de sentido que ultrapasse aquilo que a paixão é incapaz de traduzir dentre suas mais criativas aptidões. Há um desejo ardente no coração humano que transcende o simples existir, uma vez que lhe é fonte divina do ser e estar no mundo.


No intuito de compartilhar alguns elementos de reflexão capazes de corroborar à contemplação da beleza e da verdade da “Celebração cristã”, à luz do Evangelho e da Fraternidade Social, a Igreja Católica, pelas mãos ungidas de Francisco, Sumo Pontífice, é convidada, em carta, “para redescobrir, custodiar e viver a verdade e a força da Celebração cristã” (DD, n. 16). Em 29 de junho de 2022, ocasião da Solenidade dos Apóstolos Pedro e Paulo, fora publicada a Carta Apostólica Desiderio Desideravi (DD), a respeito da formação litúrgica do Povo de Deus.


Engana-se quem pensa tratar-se de uma instrução ou diretório litúrgico às cristãs e aos cristãos, sejam bispos, padres, diáconos, consagrados(as), leigas(os); antes traduz ser um desejo de Francisco em compartir um escrito fraterno, meditativo, com “vívido caráter bíblico, patrístico e litúrgico” à inspirar a experiência de encontro pessoal e comunitário com Àquele que traduz a razão do ser Igreja ontem, hoje e, claro, amanhã. Por quê? “A fé cristã, ou é um encontro vivo com Ele, ou não é” (DD, n.10). Mas, o que isto significa, afinal?


Desiderio desideravi hoc Pascha manducare vobiscum, antequam patiar, isto é, “tenho desejado ardentemente comer convosco esta ceia pascal, antes de padecer” (Lc 22,15). Ao revisitar a escritura sagrada e rememorar que “quando chegou a hora, Jesus sentou-se à mesa com os apóstolos e disse-lhes: desejei ardentemente comer com vocês esta ceia de Páscoa, antes de sofrer” (Lc 22,14-15), propõe-se às cristãs, aos cristãos e a cada pessoa de boa vontade, a acolher e responder ao chamado para encontrar-se: por Cristo, com Cristo e em Cristo, no amor de Deus Pai, pela graça do Espírito Santo. Todas(os) são convidadas(os), mesmo que, ainda hoje, muitas pessoas vivam na incerteza, pois, “pode acontecer de não estarmos conscientes disso, mas, todas as vezes que vamos à Missa, nós o fazemos, porque somos atraídos pelo desejo que Ele tem de nós” (DD, n. 6).


E, para tão esplêndida experiência, como apresentar-se? “Para se ter acesso, é necessária somente a veste nupcial da fé, que se adquire pela escuta da Palavra” (DD, n. 5). Contudo, é salutar estar atentos(as) às melindres forças distorcivas do cristianismo. “O conteúdo do Pão partido é a cruz de Jesus, seu sacrifício em obediência de amor ao Pai” (DD, n. 7). A compreensão do Mistério Pascal de Jesus Cristo, para além do saber intelectual, ou então, de uma assimilação mental de uma ideia, consiste naquela questão decisiva à vida; em realizar “um real envolvimento existencial com a sua Pessoa [...]; isto é, ser membro do Corpo de Cristo” (DD, n. 41). Por isso, ter-se-á que recomeçar um caminho de reencontro com àquele amor primeiro, nascido pelas águas batismais e nutrido na comunhão fraterna, no partir o pão, na oração, no ensinamento (At 2,42-47), na riqueza da ritualidade, da arte e linguagem simbólica da liturgia que transpira “uma experiência vital” (DD, n. 46).  


Mas, atenção! Cuidado com a perigosa tentação à vida cristã referente ao “mundanismo espiritual” que se nutre pelo gnosticismo e no neopelagianismo (EG, n.93-97); pois, ao passo que o primeiro reduz a fé ao subjetivismo “na imanência da sua própria razão ou dos seus sentimentos” (EG, n. 94), o segundo torna nulo o valor da graça por alimentar-se à confiança das próprias forças, favorecendo “um elitismo narcisista e autoritário, onde em vez de evangelizar, se analisam e classificam os demais e, em vez de facilitar o acesso à graça, consomem-se as energias em controlar” (EG, n. 94). Contra tais venenos socioeclesiais encontra-se o eficaz antídoto da práxis litúrgica pastoral que conclama ao “nós”, à comunhão, à sinodalidade, à comensalidade, ao ardente desejo de tudo partilhar, “à totalidade dos fiéis unidos em Cristo” (DD, n. 19). 


Eis, pois, uma nobre inspiração para a vivência em grupo, para a experiência comunitária e social. “Não poderíamos ter outra possibilidade de um encontro com Ele senão na comunidade que celebra” (DD, n. 8). Eis, portanto, o ardente desejo de ser e estar partícipe no grupo de jovens, porque, como pedagogicamente ensinava Hilário Dick, a Juventude é um “lugar teológico” e, ao celebrar a vida, a memória, a história, a fé professada, responde sinceramente ao sagrado pedido e mandato do Mestre de Nazaré: “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22, 20), o qual “a Igreja sempre guardou, como seu tesouro mais precioso” (DD, n. 8). Ao finalizar, desiderio desideravi (desejo ardentemente), ter-te despertado à vontade de conhecer o conteúdo da Carta Apostólica e que possas sentir-te no ardor do amor de Deus, em Jesus Cristo, pois, “a vida cristã é um caminho contínuo de crescimento: somos chamados a nos deixar formar com alegria e comunhão” (DD, n. 62).



Padre Leandro de Mello

Padre Leandro de Mello

Pároco na paróquia Nossa Senhora dos Navegantes – Ronda Alta, e Assessor da Pastoral da Juventude

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