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09.Jul - “E o meu livro, Queres Ler?”
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“E o meu livro, Queres Ler?”

 


Uma biblioteca, por certo, guarda em seu ventre, para além de livros, enciclopédias, artigos, poesias, mapas e cartas, a memória histórica e artístico cultural que, com sutileza e coragem, buscou-se registrar, a seu modo, por mãos e pensamentos diversos, nevrálgicas experiências vívidas à essência humana. Que buscamos à biblioteca do sábio e digno viver?


César Osmar Rodrigues Escoto, músico sul-brasileiro, reconhecido por interpretar canções nativistas, cunhou versos marcantes à cultura rio-grandense que lhe renderam, em referência ao pai, por guardar a alcunha de Gurrião (pardal), o codinome “César Passarinho”. Em 1983, a saber, Neto Fagundes e Renato Borguetti, no palco da Califórnia da Canção Nativa, interpretaram a canção “Guri” na qual Passarinho registra à história, memórias culturais e familiares dando vida e poesia à música.


O patrimônio histórico, artístico e cultural rio-grandense, sabe-se, ultrapassa grandemente as prateleiras das preciosas bibliotecas. A título de exemplo, pode-se recordar que, através da realização do 15º Congresso Tradicionalista Gaúcho, realizado em Santiago (08 a 11 de janeiro, 1970), instituiu-se a Ciranda Cultural de Prendas do Rio Grande do Sul. A finalidade, de forma branda, das cirandas é integrar crianças, adolescentes e jovens, à tradição artística, sociocultural, histórica e político econômica do estado gaúcho, das entidades, grupos, famílias e da população em geral.


Jovens, prendas e peões, do Rio Grande do Sul, realizam verdadeiras obras primas à biblioteca cultural gaúcha, através de belíssimas pesquisas de campo, mostras folclóricas, resgate memorial familiar, culinária, vestuário, utensílios (domésticos, de campo e galpão), poesia, música, etc. que dão voz à história geracional. Registre-se, pois, deveras importante que significativa memória deste patrimônio não restringe-se aos escritos, sejam cartas, redações ou livros, pois, transmite-se via convívio familiar e social, perpetuado e arquivado através das variadas pesquisas e exposições realizadas, em tempos oportunos, nas cirandas e afins. À memória, seria lastimável perder tamanha bagagem. O contexto contemporâneo, considerada a pandemia, preocupa quanto ao desenrolar dos processos e a partilha de expressões de tantas pessoas. 


Compilar bibliotecas, sejam elas físicas, virtuais, afetivas ou memoriais humanos, requer projetos, processos, diálogo fraterno, observação da realidade, discernimento e ações profícuas capazes de salvaguardar, respeitosamente, toda articulação, protagonismo e organização das pessoas envolvidas. A escritura sagrada, a seu tempo, expressão teológico cultural e histórica do “povo de Deus”, com narrativas, poemas, cânticos, oráculos, etc. registra, à humanidade, aspectos essenciais às tradições religiosas reveladas por graça e inspiração divina. À compilação dos livros sagrados do primeiro e segundo testamento, chama-se Bíblia (biblioteca). Para comunidade de fé, muito mais, é “Livro Sagrado”, logo, a essência ultrapassa o escrito!


No construto de alteridades humanas, histórico culturais, político sociais e religiosas há, por certo, frustrações, alegrias e tensões. Matheus Costa Borges na poesia “O Livro do Coração”, expressa: “Este livro envelhecido tem marcas que eu mesmo fiz. E a própria vida hoje quis dar conta do que guardei. Nos rastros que já cruzei e o tanto que hei de andar, percebi que, ao versejar, confesso tudo que sei [...]. Todo livro, embora antigo, traz consigo uma lição. Este, do meu coração, também não é diferente, em suas linhas, sabe e sente tudo que mais nos indaga e entende as dores amargas que, por ‘vez’, invadem a gente”. César Passarinho, jovem gaúcho, cantou: “Hei de ter uma tabuada e o meu livro, Queres Ler. Vou aprender a fazer contas e algum bilhete escrever [...]. E se Deus não achar muito tanta coisa que eu pedi. Não deixe que eu me separe deste rancho onde nasci. Nem me desperte tão cedo do meu sonho de guri!”


Papa Francisco, no livro “Vamos sonhar juntos” ajuda-nos refletir que “o todo é sempre maior do que as partes, e a unidade deve transcender o conflito”. É importante, ademais, nestes contextos de crise e inquietações resgatar em nós e nos ambientes que compartilhamos a vida, a “sensação de pertencimento; só assim nossos povos poderão se tornar sujeitos da própria história. Estamos em um momento de restaurar a ética da fraternidade e da solidariedade, regenerando vínculos de confiança e pertencimento. Porque aquilo que nos salva não é uma ideia, mas um encontro. Somente o rosto do outro é capaz de despertar o melhor em nós” (2020, p. 115-117).


À juventude que sonha e articula projetos e constrói história nas cirandas, entreveros culturais, festivais cancioneiros, artísticos, provas épicas e tantas outras atividades, muitas “por escrito”, talvez; “alegre-se, cheia de graça: o Senhor está contigo!” (Lc 1,28). Segui com ousadia, criatividade e “não tenha medo” (Lc 1,30). Sabe-se que, indiferente dos resultados, a formação integral, as imersões nas comunidades, grupos e entidades, engrandecem a experiência juvenil. E quanto às conquistas e premiações? Será a idade, nobre critério? “Busquem primeiro o Reino de Deus e sua justiça, e tudo mais vos será acrescentado” (Mt 6,33). E, por que não propor, às entidades e grupos, sarais artísticos, podcast’s, vídeos, post’s... um livro, talvez? É tempo de Esperançar!


 


Padre Leandro de Mello

Padre Leandro de Mello

Pároco na paróquia Nossa Senhora dos Navegantes – Ronda Alta, e Assessor da Pastoral da Juventude

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